quinta-feira, 1 de março de 2012

Cruzadas Templários e a Maçonaria



Um pouco de História


O ano é 1095 da Era Cristã. Um contingente de mais de cem mil pessoas sai da Europa em direção à Jerusalém. Sua meta: tomar para a cristandade o famoso santuário que está nas mãos dos muçulmanos. Na imensa mole humana que se desloca, a pé, a cavalo e de navio para a Palestina, cerca de vinte mil são combatentes. O resto são pedreiros, carpinteiros, padres, tanoeiros, armeiros e todo tipo de profissional ou mero aventureiro que espera participar do botim que certamente haverá para ser distribuído quando os cristãos conquistarem Jerusalém.
É a grande Cruzada. A história oficial dessa que foi uma das maiores aventuras guerreiras de todos os tempos afirma que tal movimento aconteceu por causa do zelo cristão, cujo espírito não suportava ser afastado dos lugares onde as relíquias sagradas do fundador da sua crença estavam depositadas. Jerusalém, onde o Cristo foi crucificado, onde ele sofreu e morreu pelo resgate da humanidade, não podia continuar a ser controlado por infiéis, que massacravam e impediam que os devotos da verdadeira fé a viessem professar nos lugares onde os acontecimentos que a justificavam aconteceram.
Então, a Igreja, apoiada pelos barões do Ocidente, resolveu marchar para o Oriente em defesa da sua fé. Histórias de tortura e massacre dos cristãos pelos muçulmanos foram contadas pela Europa toda, provocando uma comoção tão grande, que logo, os barões assinalados e o povo sem nome se ajuntaram em praça pública e gritaram em uníssono: Deus o quer. E assim se pôs um povo em marcha para lutar em defesa de sua fé.


Os verdadeiros motivos
Hoje se sabe que os motivos que impulsionaram esse formidável movimento não eram exatamente aqueles que seus idealizadores nos quiseram fazer acreditar. Ou seja, que tudo feito pela fé. Para começar, os motivos alegados para essa Cruzada não eram verdadeiros. Na verdade, os líderes do Islã, até aquele momento da história -― fins do século XI - eram extremamente tolerantes com os cristãos e os judeus. Relatos de uma pacífica convivência podem ser lidos em crônicas da época, inclusive no historiador cristão oficial Fulk de Chartres, que viveu na corte de Baldoino I, o primeiro rei cruzado de Jerusalém.
Na tradição muçulmana, Jesus era considerado um grande profeta, quase tão importante quanto Maomé. Era evidente que não o cultuavam como filho de Deus, como queriam os cristãos. Nem acreditavam que tivesse morrido para salvar a humanidade e no terceiro dia ressuscitado. Mas não custava tolerar a crença dos seus seguidores e permitir que visitassem seus lugares santos. Até porque, ontem como hoje, o povo de Jerusalém vive do lucrativo comércio que a cidade santuário proporciona. Dessa forma, não há registros de conflitos mais sérios entre cristãos e muçulmanos antes das Cruzadas. Esses conflitos eram mais comuns com os judeus do que com os adeptos do Islã.
É difícil explicar as Cruzadas sem analisar o ambiente vivido pelos europeus em fins do século X e início do século XI. Nessa época a Europa vivia em meio à pobreza e à ignorância. Pobreza causada pela destruição da civilização urbana implantada pelo império romano e ignorância disseminada por uma doutrina que via no desenvolvimento do espírito humano uma afronta à vontade de Deus. Era assim que a Igreja medieval conformava a vida do povo. Buscar a felicidade através dos bens materiais era pecado. O sexo, praticado com prazer, era pecado. O caminho do céu só podia ser trilhado por quem evitasse cometer os sete pecados capitais: Gula, Avareza, Inveja, Preguiça, Soberba, Ira, Luxúria. É evidente que esses pecados capitais eram perdoados aos nobres e aos membros clero, pois estes eram os únicos que tinham comida demais e condições para serem avarentos, preguiçosos, invejosos e soberbos. Mas o homem do povo, quando os praticava, ia direto para o inferno.
Onde estava a porta de fuga para escapar desse ambiente de pobreza e ignorância? No Oriente Médio, entre os povos que não professavam esses credos e podiam, livremente, comerciar e buscar os prazeres materiais sem o temor de ofender a Deus. No Império fundado pelos muçulmanos e nos territórios que eles compartilhavam com judeus e cristãos ortodoxos, conhecidos como bizantinos, não era pecado ser rico e a felicidade aqui na terra não impedia que a pessoa pudesse entrar no céu depois que morresse. A vida na terra não era vista como uma jornada de expiação, onde quanto mais se sofresse, mais chances se teria de obter um lugar no paraíso. Por isso, na Europa dominada pelo pensamento católico, bizantino era sinônimo de pessoa vasia, libertina, folgazão.
Os muçulmanos eram infiéis e matar um infiel não era pecado, pregavam os padres. Ao contrário, era o caminho mais curto para o céu. Quem morresse defendendo os lugares tinha lugar garantido no céu. E assim garantidos, lá se foram os zelosos cristãos da Europa libertar os lugares santos do domínio dos infiéis. Mas antes passaram por Constantinopla e saquearam a cidade. E também por outras cidades do Império Bizantino e domínios muçulmanos, saqueando e pilhando, durante quatro anos, até que, em 7 de junho de 1099 chegaram às portas de Jerusalém e iniciaram o cerco que, na sexta –feira santa, 15 de julho, depois de um pavoroso massacre da população local, lhes daria o controle total da cidade.
Estima-se que 40.000 pessoas, entre muçulmanos, judeus e cristãos ortodoxos foram mortos pelos cruzados por ocasião da tomada da cidade.

Um motivo nada profano

Assim, as Cruzadas não foram mais que expedições de pilhagem e conquista, e os cruzados não eram melhores que os piratas que infestaram os portos da América nos séculos de colonização das terras do novo mundo. Seu objetivo não tinha nada de piedoso. Os cruzados lutavam por terras, riqueza e poder. Nada diferente dos homens comandados por Henry Morgan, Jacques Laffite, o Capitão Kid, o Barba Ruiva e outros bucaneiros famosos que infestaram os mares do novo mundo nos séculos XVII e XVIII. Esse foi o motivo profano.
Mas há quem sustente que o verdadeiro objetivo dos cruzados era bem diferente desses profanos motivos acima citados. Na verdade, o que eles queriam era mesmo implantar um reino universal cristão, governado pelos legítimos descendentes de Cristo.
O pressuposto que fundamenta essa tese é a tradição existente em algumas regiões da Europa, especialmente no norte da França, na região da Alsácia─Lorena e no sul, região do Langedoc, principalmente, de que Jesus e Maria Madalena eram casados e teriam tido uma filha chamada Sara, que foi criada na França e teria se casado com um nobre da terra, dando origem a uma das mais tradicionais famílias do pais. Essa família, ao longo dos séculos, teria se ramificado em diversas casas nobres da Europa e no século VI deu origem aos primeiros reis franceses, da linhagem dos Merovíngeos. Em fins do século XI, época em que aconteceu a Primeira Cruzada, essa família estava representada pela casa de Lorena, cujo chefe era o Barão Godofredo de Bulhões.
Assim, Godofredo de Bulhões seria descendente consanguíneo direto de Jesus. Jesus, na verdade, por ser descendente de Davi, era o herdeiro do reino de Israel, e sua crucificação se dera por motivos políticos mesmo e não religiosos, como afirmavam os evangelhos. Dessa forma, reconquistar Jerusalém e implantar o reino de Jesus, o Messias esperado, era a verdadeiro motivo das Cruzadas.
Quando os cruzados capturaram Jerusalém, em 1099, Godofredo de Bulhões era o comandante da cruzada. Logo após a captura da cidade foi fundado o reino de Jerusalém, chamado de o Reino da Consciência, ou o Reino dos Céus na terra, como o próprio Jesus chamava o seu futuro reinado. A coroa do novo reino foi entregue ao irmão de Godofredo, Baldoíno, que se tornou o primeiro rei de Jerusalém. Em 1104, o rei Baldoíno encomendou a oito cavaleiros franceses, da região da Champagne, um curioso e ultra secreto trabalho: escavar alguns locais de Jerusalém em busca de documentos e outras provas que confirmassem a condição de Jesus como legitimo herdeiro do reino de Israel, bem como de sua condição de casado e que teve filhos. Esses cavaleiros trabalhariam sobre o disfarce de uma Ordem de Cavalaria chamada Pobre Cavaleiros de Cristo e do Templo do Rei Salomão. Sua sede seria os estábulos do antigo Templo do Rei Salomão. Para que não se desconfiasse de seus verdadeiros objetivos, foi proposto que eles se apresentassem como guardiães das estradas. Nascia, assim, em 1104, e não em 1118, como sustenta o historiador Guilherme de Tiro, os famosos Cavaleiros Templários.
Documentos, relíquias e outros artefatos provando a tese da família de Godofredo de Bulhões ─ de que Jesus era legítimo herdeiro do reino de Israel, que era casado e deixou herdeiros― foram encontrados e esse achado constituiu o verdadeiro tesouro dos templários. Entre essas relíquias estava o hoje famoso Santo Sudário que está depositado na Catedral de Turim. Esse foi o verdadeiro motivo pelo qual os templários se tornaram tão ricos e poderosos politica e economicamente. Durante quase dois séculos eles se constituíram numa espécie de terceiro poder em toda a cristandade, desafiando mesmo a autoridade dos reis e da Igreja.

O segredo dos templários

Assim, o tesouro dos templários era o seu próprio segredo. Eles sabiam a verdadeira historia de Jesus. Encontraram seus restos mortais e os de sua família. Descobriram que ele foi um homem comum, que morreu por objetivos políticos e não era um deus, como a Igreja pregava. Que não nasceu de uma virgem, que não ressuscitou de verdade. Que tudo foi uma armação política que não deu certo. Que teve descendentes que agora postulavam a sua herança. Isso os tornou heréticos. Isso os fez renegar os dogmas da igreja e assumir doutrinas heréticas e estranhas àquelas defendidas pela igreja. Segundo as atas do processo que a Igreja moveu contra eles em 1307, eles renegavam Cristo, cuspiam na cruz, praticavam estranhos ritos que contariava os principais postulados do Cristianismo.
E mais. O Vaticano teve que comprar o seu silêncio durante quase dois séculos. Pagou por isso altíssimas somas em dinheiro, possessões e poder. Por isso os templários se tornaram tão poderosos e acabaram se constituindo numa grave ameaça á Igreja e aos poderes constituídos. Esse foi o motivo da supressão da Ordem e da execução dos seus líderes.
Depois das cruzadas se espalhou pela Europa as histórias do Santo Graal. O Santo Graal era a taça usada por Jesus na ceia Pascal. Segundo algumas tradições, José de Arimatéia colheu nela um pouco do sangue de Jesus vertido na cruz. E o guardou como relíquia sagrada. Mas na verdade, o sangue de Jesus, o Santo Graal, era o filho que ele teria gerado com Maria Madalena, o qual José de Arimatéia teria salvo levando-o para a França. O Santo Graal, efetivamente, era o “sangue real”, representado pelo filho de Jesus que crescia no ventre de Madalena.
Assim, o tesouro dos templários, na verdade, seria um tesouro espiritual. Ele era uma ideia, uma crença e uma esperança. Era a esperança de que um dia, o reino dos céus pudesse, efetivamente, ser instalado na terra, sob o governo dos legítimos descendentes de Cristo. E essa foi o motivo das cruzadas e a razão da fundação da Ordem dos Templários, pois se esperava que eles viessem a se constituir no braço militar do novo reino. Por isso eram chamados de "a milícia de Cristo".

Os templários e a Maçonaria

Há pouca evidência histórica de uma ligação direta entre os templários e maçonaria, enquanto instituições. A única referência documental encontrada nos registros da Ordem do Templo se refere aos pedreiros livres, chamados por Bernardo de Clairvax, o redator do estatuto da Ordem, como os “construtores” que deveriam acompanhar os cavaleiros para erguer suas preceptorias, castelos e fortalezas. Assim, verifica-se que o templários, bem como as demais Ordens de Cavalaria, mantinham em suas organizações pessoas ligadas ao ramo da construção civil, os quais, segundo os registros mais antigos da maçonaria, deram origem á nossa tradição.
Evidentemente, a ligação Maçonaria-Ordem do Templo revela mais um vínculo espiritual do que formal. Esse vínculo vem do fato de ambos os grupos serem sócios da mesma tradição, dos mesmos elementos de culto e da mesma esperança messiânica, que oxalá, levou à fundação da Ordem do Templo em seus motivos filosóficos, da mesma forma que inspirou os grupos que fundaram a Maçonaria institucional. Ambas cultivavam a Gnose como filosofia e as virtudes cavalheirescas como prática de vida.
Há muitos questionamentos a serem levantados quando se fala de uma interação Maçonaria-Ordem do Templo. Essa interação passa principalmente pela política e pela História de países como Inglaterra, França, Alemanha, Portugal e Escócia, principalmente, onde os proscritos cavaleiros da Ordem do Templo, após a sua dissolução, orquestrada por Filipe IV, rei da França, e pelo papa Clemente V, buscaram abrigo e homizia. Sabe-se que na França e na Inglaterra, a maioria dos templários sobreviventes encontrou abrigo na Ordem homônima dos Cavaleiros do Hospital de São João, instituição fundada em Jerusalém, na mesma época da Ordem do Templo. E que nos territórios da Alemanha e no norte da Europa (Suécia, Ucrânia, Polônia, principalmente) eles se homiziaram junto aos Cavaleiros Teutônicos, seus congêneres naquela parte da Europa. Em Portugal encontraram abrigo junto aos reis portugueses, os quais, por tradição, faziam parte da Ordem do Templo desde as primeiras cruzadas. O Infante Afonso Henriques, fundador do reino português era cavaleiro templário, tendo doado à Ordem várias propriedades em terras portuguesas, inclusive o famosos castelo de Tomar.E na Escócia, o rei Robert, The Bruce, foi um dos principais defensores da Ordem do Templo, tendo inclusive contado com uma tropa de cavaleiros templários na famosa batalha de Bannokburn, quando a Escócia conquistou a liberdade vencendo as tropas inglesas do rei Eduardo II.
As mais antigas tradições ligando os motivos da Cavalaria aos ideais maçônicos são ingleses e escoceses. Os manuscritos maçônicos falam do rei Atelsthan, rei escocês em cujo reinado teria se criado a tradição de se conceder aos pedreiros um status de cidadãos do mundo, permitindo que eles andassem livremente pelo reino, aplicando suas ideias na arquitetura e na própria organização de suas profissões. Essa estrutura seria copiada depois por outras guildas de profissionais, se espalhando pela Europa como uma verdadeira tradição. E da estrutura da guilda dos pedreiros livres teria se originado a maçonaria operativa, que mais tarde, através da absorção dos intelectuais perseguidos pela Igreja, teria dado origem ao que hoje chamamos de Maçonaria especulativa.
Na origem de tudo isso estaria, naturalmente, os templários. Eles teriam dado um “start” de rebeldia contra o monopólio que a Igreja exercia sobre o pensamento ocidental, o que faria deles uma espécie de paladinos da liberdade de pensamento que mais, tarde, já no século XVII, no auge das guerras religiosas, iria nortear o pensamento maçônico. Assim, a ligação templários-maçonaria aparece na literatura e no ideário popular como uma interação comum e necessária entre duas instituições que no tempo e na proposta ideológica perseguiam o mesmo caminho. Nada mais lógico que os maçons es-piritualistas do século XVIII tivessem adotado os templários como seus sucessores espirituais.
Todavia, em nossa opinião, existe uma ligação histórica entre a maçonaria e a Ordem dos Cavaleiros de São João muito mais provável do que com a Ordem do Templo. É a essa Ordem que o Cavaleiro Ransay se refere em seu famoso discurso. Essa Ordem, cujos objetivos eram filantrópicos e institucionais, ainda hoje é referenciada na Maçonaria através da tradição do ”hospitaleiro”, ou seja, o Irmão que recolhe as contribuições que deverão ser aplicadas nas ações filantrópicas da Ordem.




dy  João Natalino

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